terça-feira, março 03, 2009

A Porta


Todos os dias, quando passava por aquela porta, imaginava o que estaria por detrás dela. Que para lá dela estaria um mundo imaginário, um jardim esplendoroso, com fontes, árvores e flores das mais belas.
Outras vezes pensava que podia estar qualquer coisa de mau, escuro como breu, como se de noite se fizesse ao passar pela porta, com diabos de olhos vermelhos escondidos por trás de cada ramo partido.
A porta lá estava, todos os dias em que por lá passava, quando era criança e ia para a escola, de manhã, à hora de almoço, ao fim da tarde, quando voltava para casa.
A porta lá esteve sempre, enquanto eu cresci, e sempre se manteve misteriosa.
Quando criança, com os meus irmãos, passávamos e batíamos à porta, só para ver se alguém aparecia para a abrir. E eu pensava e dizia, batemos à porta para comprar gelados, que do outro lado se vendem! E depois batíamos e fugíamos com medo que aparecesse mesmo alguém e a abrisse.
Aquela porta verde, de madeira, continuou verde, de madeira, mas a tinta começou a cair de velha.
E continuei a passar por lá, mas deixei de reparar nela com o tempo e com o hábito.
Ontem passei e vi que já lá não estava. No lugar dela colocaram cimento e tijolos. Já não é uma porta, mas um bocado de parede, de muro entaipado com cimento. O meu sonho de criança terminou, mas na minha imaginação continua lá a porta verde, de madeira, com o homem dos gelados por trás.
Estaria mesmo lá?

1 comentário:

Gi disse...

E porque é que a Beta bate à porta?
Para ver a porta abe(r)ta.
Gostei do texto, Beta. ;)