sexta-feira, outubro 19, 2007

um filho


ela sentou-se nos degraus da escada, colocou as mãos na cabeça, entrelaçou os dedos nos cabelos e pensou...


tinha-o amado como a um filho, apaparicado como ninguém. tinha-o acolhido em seus braços quando ele estava triste, quando ele precisava de apoio. tinha.


naquele dia tinham-lho tirado dos braços, levado para longe. as lágrimas correram pelos sulcos que eram os rios das suas rugas, a tristeza tinha-se espelhado na alma e os seus olhos olhavam o longe como se ele não tivesse fim.


levaram-lhe um filho. um filho nunca se leva a ninguém, mesmo que não seja verdadeiramente nosso.


ficou uma ferida aberta no peito. uma ferida que custa a cicatrizar. uma ferida que tarda em fechar, porque quando se perde um filho elas nuncam fecham, há sempre uma pequenina nesga que não fecha, que não quer mesmo fechar, que se recusa a aceitar e que por isso mesmo se recusa a fechar.

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